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sexta-feira, 20 de março de 2015

Olhares + Serapeum e Pilar Diocletiano - Alexandria, Egipto



Olhares

(clique nas fotos para ampliar)





Não vale a pena perguntar como é que esta foto foi tirada que não respondo...
































Portugal está ali, depois do horizonte, onde o sol se põe.



























Serapeum + Pilar de Diocletiano


Neste grande complexo, situado na antiga Acrópole de Alexandria, podemos encontrar quatro grandes estruturas: 1) as ruínas do antigo grande templo dedicado a Serápis, o deus nacional do Egipto ptolomaico; 2) as catacumbas do antigo santuário onde todos os anos, segundo se crê, se realizavam os rituais funerários de um touro sacrificado em nome de Serápis (touro escolhido e preparado, precisamente, para ser um símbolo vivo do próprio deus); 3) para mim a estrutura mais importante e significativa, as antigas catacumbas da chamada "biblioteca-filha" de Alexandria, uma espécie de anexo da Biblioteca Mãe, e que se crê ter sobrevivido a esta durante muito tempo (o filme "Ágora", que retrata parte da vida e obra da filósofa Hipátia, passa-se precisamente nesta "biblioteca-filha", no edifício do antigo Serapeum); 4) a estrutura mais recente, o grande pilar de Diocletiano (25 m de altura) ladeado por duas esfinges, construído, como o próprio nome indica, em nome do imperador romano Diocletiano, e não em nome do general romano Pompeu, como se convencionou erradamente; razão pela qual ainda hoje a estrutura é designada oficialmente por "Pilar de Pompeu", não obstante o erro histórico ter sido há muito reconhecido.

Sem dúvida o lugar mais inspirador que até agora tive oportunidade de visitar nesta cidade. 

Sugiro, antes de mais, a visualização deste excerto da série original Cosmos, de Carl Sagan, sobretudo os primeiro minutos em que ele visita precisamente as catacumbas da "biblioteca-filha", nos idos de 80, quando a estrutura não estava ainda propriamente "apresentável", turisticamente falando, nem sequer devidamente explorada arqueologicamente. 





Vamos às fotos.



Lá ao fundo, ao fim da rua, ergue-se o Pilar de Diocletiano, altaneiro sobre a cidade um pouco indiferente. 


Já no interior do complexo.








À escala.














À entrada do santuário. Uma espécie de temor sacro sem nome impediu-me de tirar fotos no interior (para se ver como somos suscetíveis ao "terror tremendus", mesmo na presença de um santuário "pagão", talvez apenas uma reminescência do passado...). Lá dentro, um comprido corredor leva-nos até a uma espécie de altar em que figura uma estátua do touro Serápis, com certeza uma réplica colocada posteriormente, provavelmente apenas para assinalar o local onde o touro era enterrado ou sacrificado.



Entrada para as galerias/catacumbas da biblioteca-filha, uma espécie de armazém de livros.



.... Que diferença relativamente ao "barracão" que Sagan encontra depois de descer estas mesmas escadas (ver vídeo acima).



Por todo o lado, evidências das antigas "estantes" onde há cerca de 2000 anos os livros eram armazenados, e que o tempo encheu de terra e entulho.













...E pensar que nestas antigas estantes podem ter estado armazenados alguns dos livros e manuscritos mais importantes e quiçá secretos, quem sabe se trazidos da antiga Biblioteca-Mãe para serem mantidos em segurança sob a proteção dos guardiões do templo de Serápis, bem no coração da antiga cidade.... Infelizmente à maioria não lhes terá valido de muito, ou talvez tenha. Não sabemos. O certo é que agora ali pesa um silêncio funerário.




Ao que parece este filão ainda não está esgotado. Ao fundo deste corredor há um pequeno degrau onde se desce para uma espécie de pequena câmera baixa, sem saída, limitada ao fundo por uma parede de terra e entulho que parece estar mesmo a pedir para ser desbastada...








Termino: Eu bem insisti que não sou o Ronaldo, nem o Manuel José, nem nada que se pareça.... Talvez não tenha tido nada a ver com futebol, mas simplesmente com ser português.... Não sei, mas soube bem. E esta coisa do encontro fácil não deixa de ser coisa nossa, pequeninos mas de coração vasto. Como o mar.





sexta-feira, 6 de março de 2015

Porto-Este + Complexo romano de anfiteatro e banhos + Biblioteca Alexandrina - O mundo em livros + Museu Nacional de Alexandria - Alexandria, Egipto


Crónica em imagens de uma cidade que foi do Conhecimento, mas que hoje já pouco se conhece; de uma cidade que foi de Luz, mas que a poeira levantada pelo tempo em sucessivas vagas de conquistas e conquistadores, cobiças e cobiçadores, acabou por obscurecer. Muitos a cobiçaram, a "pérola do Mediterrâneo", uns para destruir e outros para a edificar. Uns para a fechar e isolar, outros para a abrir e a oferecer ao mundo. Egípcios, gregos, romanos, muçulmanos, ingleses, franceses. Mas nem tudo se perdeu: há lugares onde ainda se sente o aroma de uma promessa antiga, lugares onde brilha ainda o fulgor de uma idade que cultivava o espírito, a beleza e a verdade. Lugares onde medrou com vigor e sucesso uma outra ideia de humanidade, mais ampla e profunda. Foi sobretudo dessa Alexandria que fui à procura.


(clique nas fotos para ampliar)

Uma rua em direção ao Porto-Este de Alexandria


Marginal de Alexandria


Um pouco mais da marginal de Alexandria, nas imediações do Porto-Este



Edifício da atual Biblioteca Alexandrina, construída em 2002 em homenagem à antiga Grande Biblioteca, que se crê que se localizava algures por aqui. A sua arquitetura é extremamente significativa. Como um templo astronómico antigo, abre-se inteira ao céu, sem teto que a cubra. Não fosse a astronomia uma das ciências mais importantes e significativas para os egípcios, e não só, desde tempos imemoriais. E, com certeza, também na antiga Grande Biblioteca. Ao mesmo tempo, abre-se inteiramente à luz que lhe chega, sem constrangimentos, exatamente aquilo que se espera de alguém que se dedica ao culto do conhecimento. 

Mais uma panorâmica da Biblioteca, desta feita do lado oeste junto ao planetário (a esfera cinzenta à esquerda da imagem)

....e bem em frente à Biblioteca, o magnífico Porto-Este, a "garganta" que alimentava a biblioteca, não só de sábios mas também de livros. Por aquela estreita entrada ao fundo, no centro da imagem, entravam mercadores, viajantes e filósofos de todas as paragens do mundo mediterrânico. Muitos deles traziam consigo escritos, mas também ideias, mundivisões, culturas....



Panorâmica 160 graus do Porto - É significativo que os livros fossem das mercadorias mais procuradas pelos funcionários do porto, que revistavam os barcos que chegavam em busca de manuscritos de todas as origens. As ordens dos faraós Ptolomaicos da dinastia macedónia eram muito claras. Ptolomeu I, o fundador da dinastia, ex-general de Alexandre Magno, queria edificar uma cidade cuja força, poder e brilho estivessem sobretudo na posse, mas também na construção de conhecimento. 



Porto-Este - Só por si merece ser contemplado de todas as vertentes. Naquela faixa de terra que vem de este, a partir da esquerda, pontificou praticamente até ao séc. V ou VI da nossa era o Farol de Alexandria, o primeiro farol da história, com os seus cento e muitos metros de altura. Designado como uma das 7 maravilhas do mundo antigo, foi mandado construir pelos Ptolomeus, no séc. III a.C.



De novo o Porto - Os seus braços abraçam o mar, dispostos a receber quem quer que venha de boa vontade. Quando nele pontificava o farol, com a sua luz permanente dando as boas vindas aos recém-chegados, o Porto era um símbolo de luz, abertura e conhecimento. 


Ali ao fundo, no centro da imagem, pontifica agora, imponente e sólido, um forte feito para proteger e repelir. Noutros tempos, ali mesmo pontificava um farol, feito para guiar, iluminar e dar às boas vindas. 

O mar límpido do Porto. Que segredos esconde ainda?



Junto ao cais, virado para oeste.

De vez em quando pescam-se aqui umas belas relíquias








Os gatos tinham uma importância considerável para os antigos egípcios, ao nível de divindades. Será por acaso?




Junto ao cais, virado para este


...um sintoma da incúria e ignorância dos próprios habitantes. Triste.


...e depois de calcorrear todo o cais, eis que se chega mais ou menos a meio caminho entre os dois extremos do Porto. 

Uma das praças centrais de Alexandria, a umas centenas de metros do Porto


Uma rua praticamente tomada por alfarrabistas de rua. Talvez o amor pelos livros ainda esteja vivo, quanto mais não seja latente no íntimo dos seus habitantes.


Cá está.


Complexo romano de anfiteatro e banhos































...o antigo subjugado pelo novo...


Ainda no complexo - Série de estátuas e outras relíquias, completas e incompletas, recuperadas nas profundezas subaquáticas do Porto-Este (lá em cima nas fotos...)


Esfinge de Séti...ou Ramsés


Outra esfínge...

Mesmo incompreensíveis para um leigo em hieróglifos, estes caracteres têm qualquer coisa de majestático. Transmitem uma espécie de harmonia, bem ao jeito da ordem de Maat que os egípcios tanto veneravam. Ordem, razão, luz, esclarecimento, equilíbrio. Onde ficou tudo isso?


Baixo relevo de Séti I 

Mais hieróglifos

Conseguem ver a ave que transporta o ka (alma, consciência ou o que se quiser chamar) do faraó?









Biblioteca Alexandrina - O mundo em livros


A vertente traseira da Biblioteca. Com diferentes signos, símbolos e caracteres se escreveu a história do pensamento de todos os tempos.

Já no pátio interior. Busto de Alexandre Magno, o fundador da cidade. Ao fundo a esfera do planetário. 


O Porto-Este visto a partir do pátio interior da Biblioteca. Seria esta a vista a partir da biblioteca original?


Demetrius of Phalerum (350 a.C. - 280 a.C.) - o antigo estudante de Aristóteles que se pensa ter inspirado Ptolomeu I a construir a Grande Biblioteca original


No espaço interior da Biblioteca

Quilómetros de estantes (a biblioteca tem neste momento cerca de 8 milhões de livros)













...e apesar do absurdo de só abrir às 11 horas da manhã à semana, e às 12 horas ao sábado, e de todos os estudantes terem de pagar três libras para entrar (estudantes não egípcios pagam cinco), é um local de estudo muito procurado por todos

















Museu Nacional de Alexandria
(as fotos possíveis, dada a proibição de fotografar dentro do museu)





Estátua do deus Serápis, deus escolhido e de certo modo inventado por Ptolomeu I para ser o deus nacional do Egipto ptolomaico. Este deus é uma fusão de três deuses, desenhado para agradar tanto a egípcios como a gregos: Osíris, uma das mais antigas e significativas divindades egípcias (daí também ser chamado "Useserapis"); Ápis ou Hapi, deus touro egípcio; e Poseidon, o poderoso deus grego dos oceanos. Tem também traços que remetem para Zeus, a principal divindade do panteão grego, o "rei dos deuses". Trata-se de um dos exemplos mais paradigmáticos da fusão das culturas egípcia e helénica que teve lugar durante a dinastia dos Ptolomeus, após a conquista do Egipto por Alexandre, O Grande.